Menos a Luiza, que está no Canadá
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Todos aproveitaram a oportunidade. Até a Luiza, que estava no Canadá
Frase inusitada transforma comercial despretensioso em surpreendente viral.
Entenda o fenômeno que gerou milhões de cliques e uma celebridade sem rosto.
“Menos a Luiza, que está no Canadá” deve entrar para a lista dos virais mais inesperados da história. É curioso constatar que, por mais que milhares de empresas tentem fazer com que suas campanhas deslanchem na rede, uma pequena gafe ainda consegue superá-las. Por vezes, a repercussão de um vídeo pensado por meses e visivelmente bem produzido perde para um breve instante de criatividade – ou de descuido. Os internautas, afinal, fazem a Internet.
A frase, que repentinamente ficou famosa e deu origem a centenas de montagens, surgiu na propaganda de um empreendimento residencial em João Pessoa, na Paraíba. Para mostrar que os apartamentos foram construídos para “toda a família”, o colunista social Gerardo Rebello, que apresenta a campanha, fez questão de exibir a sua, mas, por algum motivo, achou por bem justificar a ausência de sua filha. Foi como um toque de naturalidade, ou nonsense, em uma cena claramente artificial.
A diferença desse viral para tantos outros é que pela primeira vez a personagem principal, a Luiza, nem sequer aparece na trama. Seu nome precede sua pessoa, de modo que, só dias depois de o vídeo se disseminar é que seu rosto ficou conhecido. Isso não aconteceu, por exemplo, com o “Hoje é dia de rock, bebê”, entoado pela atriz Christiane Torlone, ou com o “Puta falta de sacanagem”, de uma fã da banda Restart.
De acordo com Rebello, a ideia de citar sua filha no comercial partiu dos publicitários, mas é pouco provável que eles tenham pensado em transformá-lo em um viral. Basta observar que, ao contrário do que foi feito com “Eduardo e Mônica” e “Pôneis Malditos”, duas campanhas online de sucesso, o vídeo sem Luiza só foi enviado ao YouTube por iniciativa dos internautas.
Há algumas propagandas que, como a do conjunto residencial, "viralizam" por conta do humor supostamente, involuntário. A Microsoft, para promover a navegação anônima do Internet Explorer 8, criou uma cujo mau gosto, de tão explícito, fez com que os usuários especulassem sobre sua real intenção. O mesmo aconteceu duas vezes com as Havaianas: em uma, exibia a atriz Fernanda Vasconsellos sem umbigo; em outra, mostrava uma senhora com discurso libertino – prontamente retirada em respeito às “pessoas que reclamaram".
Nenhuma delas, porém, chegou próximo do alcance do comercial de Luiza, talvez por este ter sido elevado, reinventado e reinterpretado pelo próprio público. É difícil apontar quando, exatamente, ele estourou, mas certamente Lenine deu sua contribuição. Por uma feliz coincidência, o músico tinha um show marcado para João Pessoa na semana passada (13/01) e, antenado, soltou logo que subiu ao palco:
“Boa noite, João Pessoa! Que maravilha, rapaz, tá todo mundo aqui. Só não está a Luiza, que tá no Canadá, né?”. O vídeo, até o momento da publicação desta reportagem, havia sido visualizado 552 mil vezes.
O vírus do viral
Montagens clássicas na Internet, com Dimitri e Hitler, interpretado pelo ator Bruno Ganz, foram rapidamente criadas, e mesmo o hit do verão, “Ai se eu te pego”, de Michel Teló, ganhou uma versão – “Luiza, por que você não volta?”, diz o refrão. Impressionadas com o ‘buzz’, companhias dos mais distintos ramos, da Submarino Viagens à Fundação Getúlio Vargas, decidiram aproveitá-lo.
“É o marketing de oportunidade", explica André Telles, CEO da agência de publicidade Mentes Digitais. “Você se aproveita de um acontecimento, sabendo que a reação tem de ser praticamente instantânea. Para isso, a Internet é o meio."
“Trata-se de uma ação de eficácia questionável”, completa, Michel Lent, vice-presidente de estratégia do Grupo Pontomobi. “Não sei se dá retorno comercial, mas, embora não acrescente muito à marca da empresa, passa uma imagem bem-humorada."